Você já parou para pensar como as doenças de pele podem afetar sua sexualidade?
Assim como o cérebro, nossa pele é o órgão sexual mais importante do corpo. Algumas doenças podem causar prejuízos na autoestima feminina e consequentemente aversão à intimidade e ao contato sexual.
Gostaria de destacar aqui algumas condições dermatológicas muito presentes na prática clínica e que podem impactar negativamente na sexualidade feminina: mulheres com condições de pele secundárias aos tratamentos oncológicos, mulheres portadoras de lupus e mulheres portadoras de psoríase.
As mulheres que fazem tratamentos oncológicos experimentam um espectro de condições dermatológicas que afetam sua pele, cabelo, unhas e superfícies mucosas. Estudos demonstraram que esses efeitos tóxicos podem afetar significativamente a qualidade de vida e alterar a autoimagem, identidade cultural, feminilidade, sexualidade e saúde mental feminina. Essas afecções podem levar a sofrimento físico e emocional e corroboram para o distanciamento do contato sexual. Os estigmas dermatológicos da terapia do câncer podem ser tão potentes que as mulheres podem desenvolver depressão, ansiedade e retraimento social. Em casos graves, as toxicidades dermatológicas podem até levar ao desejo da paciente de interromper a terapia do câncer e, com isso, afetar a sobrevida geral e a resposta ao tratamento, ressaltando a importância da intervenção dermatológica precoce. O diagnóstico oportuno e o manejo dessas condições dermatológicas são cruciais no atendimento multidisciplinar de mulheres com câncer.
O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica autoimune de etiologia desconhecida que pode afetar vários órgãos e sistemas. As manifestações da doença variam de fadiga, erupção cutânea e artralgias até envolvimento do sistema nervoso central (SNC), artrite, serosite, nefrite, pneumonite, doença cardíaca e problemas hematológicos. Devido à sua natureza crônica, curso imprevisível e amplo potencial de danos, os pacientes com LES podem ter uma expectativa de vida mais curta e uma qualidade de vida reduzida. Consequentemente, a doença tem impactos fisiológicos, mentais e cognitivos marcantes nas pacientes e pode resultar em disfunção sexual e física, depressão e diminuição da autoconfiança.
A psoríase é uma doença inflamatória sistêmica crônica que atinge principalmente a pele e as articulações, afetando 1-3% da população mundial. No Brasil, ainda não existem estudos sobre sua incidência e prevalência, mas estima-se que 1% da população brasileira tenha psoríase. A doença causa a formação de manchas vermelhas e escamosas em diferentes partes do corpo, como joelhos ou cotovelos. Mas a psoríase também pode se desenvolver nas áreas genitais, como vulva, área vaginal, área anal, região pubiana e parte superior das coxas. Os sintomas – como coceira, dor, secura e sangramento – costumam ocorrer em ciclos. Eles podem inflamar por algumas semanas e depois se acalmar por um tempo.
Assim, as condições dermatológicas podem afetar a sexualidade de várias maneiras:
- Ansiedade e preocupações com a imagem corporal: pessoas com patologias dermatológicas podem se sentir constrangidas quanto à sua condição e nervosas quanto à intimidade. Elas podem se preocupar que a parceria não as ache atraentes ou desejáveis. A parceria também podem ficar ansiosa, especialmente se não souber muito sobre a doença e achar que existe a possibilidade de contágio no ato sexual.
- Dor, sangramento e desconforto: a psoríase pode ser dolorosa, tornando o toque íntimo e a fricção bastante desconfortáveis. O movimento durante o sexo também pode provocar dor em pessoas com artrite psoriática, uma condição relacionada. A atrofia vaginal secundária aos tratamentos oncológicos pode ser tão intensa, que acaba transformando o ato sexual, que deveria ser prazeroso, num evento bastante desconfortável e doloroso.
- Desejo reduzido: pessoas com ansiedade e depressão relacionadas às condições cutâneas podem perder o interesse pelo sexo. Pessoas solteiras podem relutar em namorar ou ter relacionamentos íntimos.
- Uso de medicamentos para a condição: os medicamentos que tratam as condições como psoríase e lupus, bem como o uso de tratamentos adjuvantes oncológicos, juntamente com os medicamentos que tratam os transtornos secundários (por exemplo, uso de ansiolíticos e antidepressivos), também podem ter efeitos colaterais sexuais.
Ser portadora de uma condição dermatológica crônica não significa o fim da intimidade. No entanto, considere estas etapas:
- Siga as instruções do seu médico e faça o tratamento correto de sua condição dermatológica – isso pode ter um impacto muito positivo na função sexual. Mantenha sua rotina ginecológica em dia e recupere a saúde vaginal!
- Fale com sua parceria. Se você se sente constrangida, seja franca com a parceria. Você é mais do que sua condição dermatológica e a parceria te acha atraente, do jeitinho que você é! Você também deve informar seu parceiro se certas atividades sexuais são desconfortáveis. Pode ser necessário fazer alguns ajustes.
- Se o seu parceiro tiver dúvidas, responda honestamente. Eduque-o sobre a condição e diga-lhe que não é contagiosa.
Referências:
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