Anna Valéria Gueldini
Afinal, o que é a testosterona?

A testosterona é um hormônio produzido naturalmente pelos testículos e glândulas suprarrenais dos homens e pelos ovários e glândulas suprarrenais das mulheres. Nas mulheres, esse hormônio é produzido continuamente, atingindo níveis sanguíneos máximos em torno dos 20 anos de idade, diminuindo gradativamente com o tempo. Assim, aos 40 anos de idade, os níveis séricos de testosterona feminina correspondem a aproximadamente metade dos níveis sanguíneos dos 20 anos de idade, que continuam a cair com o avançar da idade.

Níveis sanguíneos de testosterona em mulheres

 

A testosterona é classificada como um andrógeno. Andrógenos são um grupo de hormônios que controlam as características sexuais. Eles desempenham um papel na manutenção dos efeitos anabólicos sistêmicos, particularmente no metabolismo dos sais, no balanço hídrico e no crescimento ósseo.

A quantidade de testosterona produzida pelas mulheres é muito menor que a produzida pelos homens (cerca de 5 a 10%) e não tem um forte efeito masculinizante, mas desempenha um papel central na sexualidade e na função metabólica, no tocante à motivação, desejo, pensamentos, fantasia, excitação e orgasmo sexuais, na preservação da autoestima, na manutenção dos níveis de energia, no controle do metabolismo, humor e emoções.

Na última década, observa-se o aumento do interesse em administrar doses baixas de testosterona para mulheres na pós-menopausa, especialmente naquelas com desejo e motivação sexual reduzidos, principalmente quando isso causa sofrimento pessoal.

Função sexual feminina e níveis de testosterona
A disfunção sexual feminina (DSF) afeta uma proporção substancial de mulheres. O termo disfunção sexual feminina (DSF) é amplo e usado para descrever condições sexuais crônicas que afetam os domínios sexuais, como desejo, excitação, orgasmo e dor durante a relação sexual. As mulheres podem ter dificuldade em um ou mais aspectos da resposta sexual, e os domínios da sexualidade alterados podem se sobrepor e variar ao longo do tempo. A causa da DSF é muitas vezes multifatorial e inclui fatores biológicos, psicológicos, interpessoais e socioculturais. Ela pode afetar negativamente as relações sociais e pessoais. Vários estudos indicam que entre 30-43% das mulheres com idades entre 18 e 59 anos experimentam algum grau de disfunção sexual. Destas, 18-22% listam a baixa libido como sintoma principal.

O envelhecimento e a menopausa são dois fatores importantes sobrepostos que afetam a função sexual feminina, levando à diminuição da capacidade de resposta sexual, da atividade sexual e do desejo. Algumas doenças crônicas, como doenças cardiovasculares, hipotireoidismo, diabetes mellitus, doenças respiratórias e doenças psiquiátricas, muito comuns em mulheres de meia idade, podem afetar direta ou indiretamente a função sexual como resultado de eventos fisiológicos, psicológicos, emocionais e interpessoais. O tipo mais comum de disfunção sexual em mulheres, o distúrbio do desejo sexual hipoativo, tem sido associado a estados emocionais e psicológicos negativos, bem como a condições médicas que incluem depressão.
Portanto, a disfunção sexual feminina é uma condição multifatorial que requer avaliação cuidadosa. O tratamento pode envolver várias estratégias de gerenciamento. O perfil hormonal de uma paciente é apenas uma parte da avaliação para determinar as origens da disfunção sexual.

Quando devo suspeitar que meus níveis de testosterona estão baixos?
Quando as áreas do corpo responsáveis pela produção direta ou indireta de testosterona (ovários, cérebro e as glândulas suprarrenais) ficam doentes ou comprometidas, o resultado é uma redução significativa nos níveis totais de testosterona.

Se os dois ovários forem removidos (ooforectomia bilateral) ou se os ovários falharem por qualquer motivo, como na menopausa, haverá uma redução imediata de 50% nos níveis séricos de testosterona. Se as glândulas suprarrenais são removidas (adrenalectomia), há também uma redução de 50% nos níveis de testosterona.

Mulheres que entram na menopausa após uma cirurgia (mulheres histerectomizadas com ovários removidos) e mulheres com insuficiência ovariana prematura (também chamada de menopausa prematura) estão entre as populações com maior probabilidade de experimentar baixos níveis de testosterona.

Se certas áreas da glândula pituitária no cérebro são afetadas por doenças ou danificadas (hipopituitarismo), os mensageiros químicos que estimulam as suprarrenais e ovários a produzir testosterona também serão afetados. Isso pode resultar em até 100% de redução na produção de testosterona.

Influência do uso de medicamentos não hormonais na função sexual feminina:
Os medicamentos utilizados no tratamento de doenças crônicas contribuíram para aumentar a longevidade e melhorar a qualidade de vida feminina. Esses medicamentos são considerados um recurso indispensável no manejo da maioria das doenças tratáveis. No entanto, os medicamentos podem afetar a função sexual através de seus efeitos no sistema nervoso central ou periférico ou devido a efeitos hormonais. Por outro lado, esses medicamentos podem também melhorar a qualidade de vida sexual das mulheres, tratando doenças que anteriormente interferiam em suas relações sexuais. Com relação a testosterona, o uso de certos medicamentos não está diretamente relacionado à sua produção, no entanto, tais medicamentos podem contribuir como causadores da diminuição do desejo sexual.

Alguns exemplos de medicações que potencialmente podem interferir no desejo sexual:
• antidepressivos
• pílulas anticoncepcionais
• espironolactona
• benzodiazepínicos
• beta bloqueadores
• cetoconazol

Sob nenhuma circunstância as pacientes devem mudar ou deixar de tomar medicamentos sem a avaliação prévia e o consentimento de seu médico. Se uma paciente estiver tomando um ou mais desses medicamentos e experimentando um desejo sexual reduzido, ela deve consultar seu médico e discutir cada situação individualmente.
Insuficiência feminina de androgênios.

Em 2002, muitos dos principais pesquisadores médicos do mundo nas áreas de endocrinologia, ginecologia e saúde sexual se reuniram na Universidade de Princeton, nos EUA. Eles produziram um documento intitulado “The Princeton Consensus Statement”. Este documento forneceu uma classificação definitiva da insuficiência feminina de androgênios. De acordo com esse documento, os sinais e sintomas femininos da insuficiência androgênica são:
• Sensação diminuída de bem-estar
• Humor disfórico e / ou motivação embotada
• Fadiga persistente e inexplicável
• Alterações da função sexual, incluindo diminuição da libido, receptividade sexual e prazer
• Perda óssea (potencial), diminuição da força muscular e / ou alterações na cognição / memória

A Declaração de Princeton definiu esses sintomas em um cenário de mulheres com níveis adequados de estrogênio, onde os níveis sanguíneos de testosterona estão na faixa mais baixa para mulheres saudáveis, excluídas outras causas que podem ocasionar os mesmos sintomas.

Em outubro de 2014, a Endocrine Society (EUA) publicou diretrizes para o uso de androgênios em mulheres. Este documento forneceu aos clínicos um roteiro de boa prática médica para o uso de testosterona em mulheres com base nas melhores evidências científicas disponíveis.

Mais recentemente, em setembro de 2019, foi publicada uma Declaração de Posicionamento e Consenso Global sobre o Uso da Terapia com Testosterona para Mulheres, que fornece o resumo mais abrangente das evidências médicas para o uso feminino desse hormônio. Este documento abrangente foi endossado por mais de 14 das sociedades, associações e faculdades de maior prestígio e autoridade do mundo. Essa declaração nos fornece orientações sobre quais mulheres podem se beneficiar com o uso da terapia com testosterona, bem como nos ajuda a identificar sintomas, sinais e condições cujas evidências não apoiam a prescrição de testosterona, explorando áreas de incerteza, além de identificar práticas de prescrição que podem potencialmente causar danos para as mulheres.

O painel internacional que criou essa Declaração concluiu que a única indicação baseada em evidências para a terapia de testosterona em mulheres é para o tratamento da disfunção hipoativa do desejo sexual (HSDD, sigla em inglês).

De acordo com a Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde (CID-11) a definição de HSDD (atualizada em 2018) afirma: A Disfunção do Desejo Sexual Hipoativo é caracterizada pela redução acentuada no desejo e motivação para se envolver em atividade sexual, conforme manifestado por qualquer um dos seguintes:

1. desejo espontâneo reduzido ou ausente (pensamentos sexuais ou fantasias); ou
2. desejo responsivo reduzido ou ausência de resposta a sinais e estímulos eróticos; ou
3. incapacidade de sustentar desejo ou interesse em atividade sexual uma vez iniciada.
Esse padrão de desejo espontâneo ou responsivo diminuído ou ausente, ou incapacidade de sustentar desejo ou interesse em atividade sexual, deve ser persistente por um período de pelo menos vários meses e estar associado a um sofrimento feminino clinicamente significativo.

Se a testosterona é tão importante, quais são os problemas relacionados ao seu uso?
Antes da ano 2000, a maioria das pesquisas médicas realizadas sobre o uso de testosterona em mulheres foram feitas com implantes e injeções de testosterona formulados para o sexo masculino e inadequados para o sexo feminino. Embora terapeuticamente eficazes, essas formas de uso apresentavam efeitos indesejáveis significativas quando usadas em mulheres.

Como os implantes e injeções de testosterona são formulados para uso em homens, eles produzem níveis sanguíneos extremamente altos de testosterona em mulheres, supra fisiológicos, diferente daqueles que naturalmente seriam produzidos, mesmo quando administrados em doses reduzidas. Em níveis elevados, a testosterona tem o potencial de causar efeitos colaterais, incluindo masculinização feminina, hirsutismo (crescimento de pelos no corpo), acne, queda de cabelos (alopécia androgenética), aumento do clitóris e alterações na voz.

Atualmente, não existe nenhum produto específico pronto a base de testosterona para o tratamento de qualquer forma de disfunção sexual feminina. Em muitos países, isso aumenta o uso de produtos de testosterona aprovados para homens prescritos para mulheres em doses reduzidas. Essa prática clínica é conhecida como uso “off-label” e pode trazer consequências desastrosas e irreversíveis.

Antes de começar a usar a testosterona prescrita pelo meu médico especialista, é preciso fazer algum teste de sangue hormonal?
O resultado do exame de sangue da testosterona não é o único fator para determinar se uma paciente deve ser tratada com testosterona – é uma pequena parte de um processo de tomada de decisão multifatorial. Se a terapia com testosterona for iniciada, o exame de sangue é uma parte importante do seguimento das pacientes, a fim de garantir que os níveis sejam mantidos dentro da concentração fisiológica aproximada para mulheres.

A análise dos níveis de testosterona no sangue fornece como resultado o status de testosterona de uma pessoa naquele momento.
A secreção de testosterona segue um ritmo diurno nas mulheres. Isso significa que aumenta e diminui ao longo de um período de 24 horas. A produção de testosterona ocorre durante a noite e de manhã cedo, com níveis mais altos ao acordar. Os níveis séricos de testosterona diminuem lentamente durante o dia e são mais baixos no final da tarde e no início da noite.
Portanto, as amostras de sangue devem ser colhidas preferencialmente pela manhã, quando os níveis hormonais estão mais altos. Variações individuais nos níveis séricos de testosterona podem ocorrer devido à hora do dia, uso de medicamentos, estresse, doença, alta ingestão de álcool ou após cirurgia recente.

Outras considerações sobre a dosagem da testosterona:
Os ovários e glândulas suprarrenais não armazenam testosterona. Uma vez produzida, a testosterona é secretada no sangue, onde é rapidamente aderida pela proteína globulina de ligação ao hormônio sexual da proteína (SHBG). Até 99% da testosterona produzida no corpo está ligada ao SHBG. Uma vez que a testosterona está ligada ao SHBG (testosterona ligada), ela fica inativa.
A testosterona à qual o SHBG não se liga é testosterona biologicamente disponível. Isto é, livre para atuar nas células do corpo (testosterona livre ou T livre).
Como o SHBG tem um efeito tão significativo na testosterona, é essencial considerar os níveis de SHBG ao fazer exames de sangue. SHBG alto resultará na redução da testosterona livre, portanto, uma causa potencial de sintomas.

Para estabelecer um diagnóstico preciso para uma paciente, é essencial que todos os fatores que contribuem para o processo de tomada de decisão sejam levados em consideração, por um médico especialista no assunto.

Testosterona para mulheres – tratamento
A maioria das pacientes do sexo feminino com sintomas de baixa testosterona exibe desejo sexual reduzido e/ou letargia e fadiga inexplicáveis. Elas também podem experimentar alterações de humor. O gerenciamento médico requer uma abordagem multidisciplinar e integrada, que deve ser coordenada por uma equipe devidamente treinada. Algumas condições médicas que também cursam com sintomas parecidos são:
• Condições médicas específicas, como deficiência de ferro, sangramento uterino anormal, diabetes, depressão e doenças da tireóide, devem ser abordadas antes de considerar as terapias hormonais;
• Sedentarismo, obesidade, tabagismo e ingestão de álcool podem potencialmente cursar com baixa autoestima e alteração da libido e precisam ser revisados;
• Medicamentos prescritos para tratar outras condições que podem interferir na função sexual;
• Relacionamento com o parceiro: se seu relacionamento não está numa fase boa, provavelmente seu interesse sexual também estará reduzido. Tentar aconselhamento sexual antes de usar terapia hormonal é fundamental.

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