Você sabia que tanto a falta quanto o excesso de higiene íntima podem ser prejudiciais à saúde?
Manter a saúde íntima adequada em meio a vida atribulada que a sociedade habitual impõe é um verdadeiro desafio. A falta de tempo associada às múltiplas tarefas assumidas pela mulher moderna pode promover sintomas genitais, que impactam negativamente na qualidade de vida feminina. E em tempos de pandemia, a dificuldade para consultas presenciais e exame físico ginecológico adequado, trazem à tona uma grande preocupação: quais são os melhores hábitos para manter a saúde genital feminina?
Quando se fala em hábitos adequados de higiene, o importante é procurar pelo equilíbrio: de acordo com estudiosos no assunto, tanto a falta como o excesso de higiene local, além do uso inadequado de produtos destinados a higiene íntima, podem promover sintomas e desconfortos locais. A falta de higiene, como acúmulo de pedaços de papel, resíduo de fezes, transpiração excessiva e secreções vaginais, ocasiona odor desagradável, coceira e pode contribuir para o desenvolvimento de infecções. O excesso de higiene da área genital pode ferir a barreira de proteção da pele e promover o crescimento de microrganismos. Os produtos inadequados, como sabonetes com pH alcalino (alteram a acidez natural da pele), ou aqueles que formam muita espuma (removem a barreira gordurosa da pele) podem ser prejudiciais. Até mesmo a fricção excessiva no momento da higienização pode contribuir para a irritação local.
Portanto, a higiene genital feminina é o conjunto de medidas realizadas com intuito de remover o excesso de resíduos na área genital, tais como células mortas, secreções, oleosidade, sangue menstrual, esperma, resto de urina, restos de papel higiênico e restos de fezes, com a finalidade de promover bem estar e conforto para a mulher, além de prevenir infecções.
Fatores que podem influenciar no bem-estar genital feminino
Existem fatores internos e externos, modificáveis ou não, que podem influenciar no bem-estar genital feminino. Dentre eles, destacam-se:
- Genética: existem mulheres que possuem variações na codificação de determinadas proteínas que conferem imunidade ao aparelho genital feminino. A expressão destas em proporções adequadas confere melhor defesa dos genitais frente a uma agressão. Por outro lado, um deficiência das mesmas pode conferir maior vulnerabilidade local.
- Hormonal: o excesso ou a falta de hormônios femininos pode promover maior ou menor saúde vaginal.
- Obesidade: o maior número de dobras na pele pode dificultar a higiene local, facilitando a proliferação bacteriana.
- Gravidez: mudanças no pH vaginal e na resposta imune local podem favorecer o surgimento de vulvovaginite na gestação.
- Estresse: interfere nos mecanismos de resposta imune da mucosa vaginal, facilitando a instalação de processos inflamatórios ou infecciosos.
- Alimentação: os excessos praticados na alimentação podem influenciar no desequilíbrio da flora vulvovaginal. As medidas apropriadas são diminuir ingestão de cafeína, presente em café, alguns chás e chocolate, e aumentar a ingestão diária de legumes, arroz, peixe, aves e frutas.
- Medicamentos: o uso de alguns medicamentos, de forma aguda ou crônica, pode interferir no equilíbrio da flora microbiana local, em especial o uso de antibióticos e de corticoides.
- Atividade física: a prática desportiva saudável favorece a irrigação dos órgãos genitais, melhorando a oxigenação e a imunidade local. Quando praticada em excesso, sem os devidos cuidados locais, pode aumentar excessivamente a umidade e as secreções vaginais, que poderão irritar a pele da vulva.
- Atividade sexual a frequência adequada da prática sexual melhora a irrigação sanguínea local e mantem o trofismo genital. Por outro lado, se a prática for excessiva e sem cuidados locais, pode gerar microfissuras e mudanças no pH, influenciando negativamente o ecossistema vaginal.
- Duchas intravaginais: a introdução de água e outras substâncias dentro do canal da vagina pode remover a flora vaginal normal, alterar o pH local, ocasionando um desequilíbrio deste ecossistema. Não confundir com as duchinhas higiênicas de banheiro, usadas externamente e de forma inclinada, que são essenciais para remoção do material orgânico que se acumula na parte externa da vulva.
- Vestimentas: roupas muito justas e tecidos sintéticos podem promover o aumento da temperatura e da umidade local, provocando diversos desconfortos e possíveis micro traumas locais. Dar preferência a roupas de fibra natural e menos justas, principalmente no período menstrual.
- Depilação: as micro fissuras e a sensibilidade da pele após o uso de lâminas, ceras quentes ou frias ou máquinas de depilar podem desencadear uma reação inflamatória local, deixando a pele mais suscetível a desenvolver infecções bacterianas ou fúngicas locais.
São considerados hábitos adequados de higiene genital todas as medidas que promovem conforto e saúde íntima. Dentre eles, destacam-se:
- Lavar a área genital: usar água corrente e produtos com pH ácido e detergência leve. Usar lenço umedecido com pH ácido quando não tiver acesso a água corrente durante o dia, quando estiver fora de casa.
- Remover o excesso de umidade: secar bem, sem friccionar, a região íntima.
- Evitar o uso de produtos não específicos para a higiene íntima: como desodorantes íntimos, duchas intra-vaginais e produtos de origem duvidosa que prometem melhorar o odor feminino.
- Usar absorvente no período menstrual: se for absorvente externo, preferir os respiráveis e trocá-los com regularidade. O uso de absorventes internos pode manter a pele da vulva mais seca e ajudar nos casos de maior sensibilidade.
- Cuidar da disposição e tamanho dos pelos pubianos: reduzir o comprimento dos pelos (0,5 a 1,0 cm) a fim de reduzir o acúmulo de resíduos. Caso preferir, a depilação íntima deve respeitar a sensibilidade individual de cada mulher.
- Usar roupas íntimas apropriadas: além do tecido ser de fibra natural, quando possível, dormir sem roupa íntima, para diminuir a umidade local e evitar a compressão externa da pele da vulva.
- Conhecer o manuseio das roupas íntimas (lavagem e secagem): lavar como habitual. Enxaguar bem, para evitar resíduos de sabão, que podem agredir a região genital no próximo uso. Secagem preferencial ao ar livre, num local ensolarado. Evitar deixar a roupa íntima pendurada no box do banheiro – o ambiente úmido favorece a proliferação bacteriana e fúngica. Sempre que possível, passar à ferro o fundo de algodão das roupas íntimas.
- Procurar atendimento médico ginecológico quando houver mau odor acompanhado de corrimento vaginal.
Dúvidas frequentes
- Uso de absorventes ou “protetores” de roupa íntima no período intermenstrual: não devem ser usados rotineiramente. Se necessário, visando proteção da transpiração excessiva, escapes sanguíneos ou urinários, dar preferência aos respiráveis.
- Uso de coletor menstrual: essa prática pode ser benéfica por evitar o contato do sangue com a vulva e assim evitar quadros alérgicos decorrentes do uso incorreto de absorventes externos. Por outro lado, a pressão exercida pelo coletor, se mal adaptado ou mal colocado, pode criar um ambiente desfavorável, prejudicando a drenagem sanguínea e linfática locais.
- Qual o melhor método: coletor menstrual ou absorvente interno? Até o momento, não se observou superioridade de um ou outro, nem mesmo aumento na prevalência de infecções comparando-se os produtos. A escolha deve ser individualizada de acordo com as preferências de cada mulher.
- Uso de lubrificantes durante o ato sexual: essa classe de produtos visa facilitar a relação sexual, principalmente para aquelas mulheres com dificuldade natural de lubrificação. Se for preciso seu uso, dar preferência para aqueles à base de água e com formulações específicas de uso vaginal.
- O uso de adornos genitais – piercings – podem dificultar a higienização, promover micro traumas no ato sexual, bem como romper o preservativo.
RECOMENDAÇÕES SOBRE HIGIENIZAÇÃO GENITAL ADEQUADA EM TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL
É sempre importante levar em consideração o biotipo da mulher, o tipo de atividade física, bem como a frequência da mesma e o tempo de permanência com a mesma vestimenta durante o dia. Em geral, recomenda-se:
Frequência de higienização
Situação 1 – dias de altas temperaturas ou mulheres com grande prática de atividade física – 1 a 3 vezes ao dia, sendo idealmente antes de sair de casa, no meio do dia e ao retornar a noite. Tempo de higienização: 2 a 3 minutos.
Situação 2 – dias mais frios, sem prática de atividade física – pelo menos uma vez ao dia. Tempo de higienização: 2 a 3 minutos.
Situação 3 – após a atividade física – fazer a higiene logo após o término do treino para evitar que o suor e outras secreções fiquem muito tempo em contato e irritem a pele da vulva.
Situação 4 – após relação sexual – lavar a área genital externa com água corrente e, se possível, produto de higiene íntima adequado. Evitar duchas intra vaginais.
Situação 5 – durante a menstruação – fazer higiene em intervalos menores e trocar o absorvente com frequência.
Tipo de vestimenta
Regra básica: DEIXE A ÁREA VENTILADA!! Um dos benefícios de se ficar mais em casa, é a possibilidade de usar roupas mais soltinhas, evitando jeans e tecidos sintéticos. Calcinhas de algodão também são muito bem vindas!
Tipo de produto adequado para higiene íntima
Existe formulação ideal?
Quando puder escolher um produto mais adequado, dê preferência para aqueles com pH ácido (semelhante ao da vagina normal), detergência suave (que não faz muita espuma), hipoalergênico, que seja líquido, que não tenha perfume e que não seja bactericida (os bactericidas podem remover a flora benéfica da região).
Situações especiais – requerem maior atenção!
Período pós-parto
O asseio deve ser mais frequente, assim como no período menstrual.
Período pós-menopausa
Devido a atrofia da pele vulvar e da mucosa vaginal, características deste período, recomenda-se lavar no máximo duas vezes ao dia, com produtos com pH próximo ao fisiológico, para evitar mais ressecamento e consequentes fissuras e coceiras. Procure seu ginecologista para tratar as consequências da menopausa na mucosa vaginal.
Durante a infância
Utilizar produtos com pH fisiológico e hipoalergênicos durante o banho da criança e a cada vez que houver evacuação. É fundamental o cuidado na secagem da região genital.
ATENÇÃO: ALERGIAS, IRRITAÇÕES PERSISTENTES E SINAIS DE CORRIMENTO VAGINAL ASSOCIADO (VULVOVAGINITES): procurar auxílio especializado do médico ginecologista. Portanto, a higiene íntima feminina deve ser uma prática habitual para promoção da saúde genital!
Referências:
- Higiene genital feminina: orientação para a mulher moderna. Paulo Cesar
Giraldo e Joziani Beghini. - Crann SE, Cunningham S, Albert A, Money DM, O’Doherty KC. Vaginal health and
hygiene practices and product use in Canada: a national cross-sectional survey. BMC
Womens Health. 2018;18(1):52. Published 2018 Mar 23. - Chen Y, Bruning E, Rubino J, Eder SE. Role of female intimate hygiene in
vulvovaginal health: Global hygiene practices and product usage. Womens Health
(Lond). 2017;13(3):58-67.